sexta-feira, 23 de maio de 2008

Planejamento e Organização do Ensino por Complexo Temático - SEJA

Para a melhor compreensão de como realizamos o Planejamento na Educação de Jovens e Adultos na E.M.E.F. Alfredo José Justo, é necessário um breve relato da caminhada que trilhamos:
Em 1998 o "Supletivo" da E.M.E.F. Podalírio Inácio de Barcellos passa por uma reorganização curricular estrutural, administrativa e pedagógica dando lugar ao Serviço de Educação de Jovens e Adultos - SEJA, sonhada, idealizada e solicitada por alguns professores da escola à SMED, que nos assessora na implantação, tendo como base as experiências vivenciadas nas escolas da rede pública municipal de Porto Alegre.
Organizado em Seis Totalidades de Ensino, sendo as três primeiras (Totalidades Iniciais) referentes aos anos iniciais do ensino fundamental e as três últimas (Totalidades Finais) referentes aos anos finais do ensino fundamental.

A base curricular está organizada em quatro áreas do conhecimento:

  • Expressão - Língua Portuguesa, Língua e Cultura Estrangeira: Espanhol ou Inglês, Educação Física e Arte-Educação;
  • Ciências Físicas, Químicas e Biológicas;
  • Ciências Sócio-Históricas e Culturais: História, Geografia e Ensino Religioso;
  • Pensamento Lógico-Matemático.

Na etapa final, as disciplinas das Áreas do Conhecimento têm carga horária igual, ou seja perfazem 5 horas/aula quinzenais cada uma.
Nessa época, o planejamento era construído a partir de perguntas coletadas em sala de aula, trabalhávamos com Tema Gerador.
A partir de 2001 nosso trabalho baseia-se na proposta de organização do ensino por Complexo Temático, o qual traz implícito o desafio de assumirmos o conhecimento do contexto como ponto de partida para a prática pedagógica. Para tanto, propõe a realização da pesquisa sócio-antropológica, "tendo em vista a organização do ensino na perspectiva de um movimento que caracteriza-se por fazer-se produção coletiva, respeitando as especificidades locais e regionais, por ser significativo para toda uma comunidade, por apontar situações-problemas para seus atores, por propor-se gerador de ação, por ajudar o aluno a compreender a realidade atual, por respeitar os sujeitos que na escola e na sociedade interagem e por ser representativo de uma dada leitura do real." (Gorodicht e Souza, 1999, p. 81- 82).
Nesse sentido, não é uma proposta que se fecha em si mesma: apresenta possibilidades de flexibilização frente às realidades de cada comunidade; proporciona acréscimos a seu fazer.

Organização do Complexo Temático:

  1. Levantamento de temas, apontando dimensões e possibilidades;
  2. Definição do foco do Complexo, organização de informações e ângulos significativos;
  3. definição do princípio de cada área, expressando a compreensão do papel da área sobre o foco;
  4. elaboração do plano de trabalho da área, concretizando o o princípio para atingir a compreensão do foco;
  5. compatibilização e reelaboração no coletivo, ação coletiva sobre o planejamento feito;
  6. seleção do conjunto de idéias que serão trabalhadas em cada Totalidade de Ensino;
  7. socialização das seleções realizadas;
  8. definição coletiva das linhas de ação;
  9. construção de parcerias;
  10. problematização, tendo em vista o próximo Complexo Temático.
Algumas Idéias Implícitas na Vivência do Decálogo de Construção do Complexo Temático:

  • Elaboração de uma estratégia didática acordada pelo coletivo da escola;
  • articulação de ações-práticas motivadoras, com sentido diante do processo de conhecimento desencadeado pelo Complexo Temático;
  • problematização do conhecimento trazido para a situação de aprendizagem;
  • vivência de um processo "original", com continuidade e coerência, que não termina nunca de ser construído;
  • existência de esforço para que o trabalho pedagógico ocorra diante de uma escola concreta, de educandos concretos e problemas contextuais vividos;
  • a contextualização dos conhecimentos sistematizados em cada área do curricular, atendendo a realidade expressa pelo Complexo Temático;
  • o Complexo Temático tem o potencial de transformar a realidade;
  • busca do significados e sentidos da aprendizagem e do que se faz;
  • todo o contexto escolar, organizado a partir do Complexo Temático torna-se pleno de informações e significados;
  • a aprendizagem será tanto mais significativa quanto mais relações o Complexo Temático estabelecer;
  • a concretização de um conjunto de decisões sobre os conteúdos e ações curriculares que dão coerência e continuidade a tudo o que ocorre na escola;
  • busca de parcerias e articulações de recursos retirando o máximo de proveito dos mesmos;
  • supera a visão de que o processo de ensino e aprendizagem é fundamentalmente, transmissão de conteúdos, visando-o como construção e reconstrução e até mesmo assimilação de saberes e conhecimentos.


As reuniões das quartas-feiras têm sido um espaço privilegiado onde realizamos além do planejamento e socialização de todo trabalho, dos avanços/permanência dos alunos, dentre outras atividades de rotina, debatemos sobre estudos em educação de Jovens e Adultos e reavaliamos nossa práxis.

Observação: No início do SEJA em Alvorada, eu trabalhava na E.M.E.F. Podalírio Inácio de Barcellos, fiz vários estudos, passei a ser convidada a dar palestras, seminários e conferências em vários municípios da Região Metropolitana, em Universidades e para professores da rede pública estadual de ensino. Axuliei a implantar essa modalidade de Ensino nas escolas: E.M.E.F. Antônio de Godoy e E.M.E.F. Paulo Freire e em 2006, voltei a trabalhar perto da minha casa na E.M.E.F. Alfredo José Justo onde pretendo me aposentar ainda este ano.

Agradecimento:

Agradeço, especialmente, a tutora Andrea Gallego, pois foi sua intervenção, através de um comentário nesse blog, na postagem sobre a Presencial do Seminário Integrador que me levou a buscar nos meus apontamentos subsídios para essa postagem e rever o material que há muito estava guardado devido ao simples fato de que não tenho sido mais solicitada a falar da minha grande paixão que é a Educação de Jovens e Adultos.

Referências:

  • BRANDÃO, Carlos R. Pesquisar-Participar. In: BRANDÃO, Carlos R. (Org.). Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Brasiliense, 1985.
  • DEMO; Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento. Rio de Janeiro. Tempo Brasileiro 1997.
  • ________. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo: Atlas, 1981.
  • FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
  • ________. Cartas à Guiné Bissau. Registros de uma experiência em processo. 4ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
  • ________. À sombra desta mangueira. 2ª ed. São Paulo: Olho d’Água, 1995.
  • ________. Professora Sim, tia não. Cartas a quem Ousa Ensinar. 12ª ed. São Paulo: Olho d’Água, 1993.
  • ________. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 24ª ed. São Paulo: Paz e Terra. 1996.
  • GORODICHT, Clarice; Souza, Maria do Carmo. Complexo Temático. In Silva, Luiz Heron. Escola Cidadã: Teoria e Prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
  • PISTRAK. Fundamentos da escola do trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1981
  • ROCHA, Silvio. Uma organização possível a partir de uma perspectiva dialética do currículo. Porto Alegre: SMED, 1994
  • VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Superação da lógica classificatória e excludente da avaliação: do "é proibido reprovar" ao é preciso garantir a aprendizagem. São Paulo: Libertad, 1998. (Coleção Cadernos Pedagógicos Libertad, v.5).
  • PORTO ALEGRE, Secretaria Municipal de Educação. Em busca da Unidade Perdida Totalidades de Conhecimento - Um Currículo em Educação Popular: Cadernos Pedagógicos nº 8, junho, 1996.
  • ________. Escola Cidadã: construindo sua identidade. Revista Paixão de Aprender nº 9, dezembro, 1995. Ciclos de Formação - Proposta Político-Pedagógica da Escola Cidadã.
  • ________. Planejando as totalidades de conhecimento na perspectiva do tema gerador. Cadernos Pedagógicos nº 13, agosto, 1998.
  • ________. Fazendo a diferença: a educação especial na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Cadernos Pedagógicos nº 20, janeiro, 2000.
  • ________. II Congresso Municipal de Educação: teses e diretrizes. Cadernos Pedagógicos nº 21, março, 2000.

Nenhum comentário: