sábado, 30 de setembro de 2006

Atividade I

Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Pedagogia Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Escola, Projeto Político Pedagógico e Currículo – A
Escola, Cultura e Sociedade – A
Nome do aluno: Ivana Molina
Número da atividade: ECS 1
Pólo: Alvorada
Prof.ª Maria Martha Dalpiaz
Prof.ª Vera Corazza
Tutora: Denise Severo


Quem sou... Eu sou Ivana Molina, uma mulher de meia idade que foi criada por várias professoras: minha mãe, sua irmã (a dinda), minhas tias (duas irmãs do meu pai) e várias primas uma delas, hoje é doutora na UniRitter. Tinha professoras por todos os lados. Eram várias gerações.
Desde sempre gostei de brincar de "escolinha". Tenho duas irmãs e cinco amigas de infância. Crescemos juntas e iniciamos no magistério, cada uma a seu tempo, pois nossas idades variam em três anos. Sempre disse que quando fosse grande, seria professora: "... também é desse modo que o destino costuma comportar-se conosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro"... E assim, me fiz professora no final da década de 70, contratada pela Prefeitura Municipal de Alvorada. Naquela época quem estivesse terminando o curso do Magistério, era considerado o máximo. As professoras tinham o ginásio e muitas somente o 5º ano Primário.
Fiz um teste na Secretaria de Educação, onde tinha que falar da LDB, a 5692/71, que noções eu tinha de planejamento, como agiria frente à determinadas situações em sala de aula e tinha que assinar um termo de que era ciente de que o pagamento atrasava quase seis meses.
Após quase três décadas, me vejo como aquela adolescente curiosa dos tempos do curso do Magistério no Dom Diogo de Souza. Sempre indagando e questionando os reais "motivos" que regem as rotinas escolares. "... no princípio era uma professora, depois passei por arranjos e adaptações que me modificaram um bocado"... E ainda estou buscando melhorar.
Sempre tive medo de marcar negativamente uma criança. Houve uma época que preferi me afastar da sala de aula, pois achava que se errasse com os papéis da secretaria da escola, era só amassá-los e jogar no lixo, (não tínhamos muitas noções de reciclagem). E foi muito bom, tive uma visão geral da escola, observava as mais variadas práticas e percebi qual professora eu não queria ser. Tinha mais duas professoras, éramos muito unidas, havíamos lido "Escola para o Povo" de Maria Teresa Nidelcoff e nas reuniões, éramos muito incisivas, às vezes as discussões varriam a madrugada, nos reuníamos na casa de uma delas em meio a churrasco e cerveja, questionávamos a tudo e a todos. Saudades...
Em 1982, liderei a primeira greve por pagamentos em dia, tínhamos outras reivindicações, mas essa era a principal. Continuamos a luta... Construímos o nosso estatuto, que foi muito modificado pelo advogado da prefeitura, fazíamos protestos abanando carteiras vazias, eram muitas reuniões no CTG Campeiros do Sul e eu defendia a proposta de desfilarmos de preto em protesto, mas perdi. E perdi o meu pai, aquele que sempre me ensinou a ser tudo que eu sou. A lutar pelos meus ideais. Tinha falecido em 16 de setembro de 1988. No dia do protesto, que eu havia defendido na assembléia: de desfilarmos todos de preto, em luto pelo respeito à categoria, eu estava mesmo de luto! Ele ainda me faz muita falta!
Bem, vamos lá! Nessa época, veio o construtivismo, fiz vários cursos. Em 1989 troquei de escola, fiz a minha última greve no município, fui afastada com processo judicial (gancho de um mês sem salários). Tinha uma advogada, ótima, que me reintegrou ao quadro e fez com que pagassem meus salários e que nada constasse na minha ficha funcional. Foi a minha maior vitória! No final, acabamos fundando o SIMA, (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada).
Em 1993, fui nomeada no Estado e convidada para ser diretora da E.M.E.F. Frederico Dihl. No ano seguinte não quis mais ser diretora e assumi a vice-direção da E.E.E.F. Nossa Senhora do Carmo, acumulava vários Cargos, trabalhava 60 horas semanais.
Em 1995, troquei novamente de escola, fui para o Jango somente pela manhã e à noite trabalhava com o Supletivo, no Podalírio Inácio de Barcellos. Estava de volta à sala de aula, com muitas idéias sobre as formas de trabalhar e avaliar, não só os alunos, mas a mim mesma enquanto educadora.
Em 1996, Alvorada elegeu a professora Stela à Prefeitura e tudo o que eu e a Valquiria (minha colega) queríamos, era ter o SEJA aqui. Começava outra luta... Visitamos escolas de Porto Alegre, fizemos formação na SMED todas às quartas-feiras, líamos Paulo Freire, Celso Vasconcellos, Miguel Arroyo, e outros tantos. Eram vídeos, palestras, conferências e ao mesmo tempo iniciavam as Constituintes Escolares no município e logo depois na escola do estado. Trabalhei como uma doida, pois sabia que aquela era a hora de colocarmos no papel e garantir todos os nossos sonhos.
Em 1999 "éramos seis", e estávamos trabalhando com o SEJA regulamentado pelo CEED. Lembro uma noite, um encontro com a Professora Conceição que trabalhava na Ilha Grande dos Marinheiros em Porto Alegre, saí da reunião com a Vaquiria. Eu estava triste, ia quase chorando, ela, a Conceição, não tinha dito "como fazer" e todos sempre diziam. Mas ela não, ela não disse... Quando chegamos à parada do ônibus, sempre ficávamos conversando enquanto o seu ônibus não vinha. Olhei para ela e disse: Que droga! E agora? O que vamos fazer? Ela tentava me consolar e foi naquele exato instante que compreendi que não há nenhuma fórmula, o quê fazer se dá na prática, e que somente através dela é que aprendemos a fazer (compreendi o que o Paulo Freire dizia...). Fui para casa, atravessei a praça da Prefeitura rindo, contente, cantarolando. Tinha finalmente aprendido – ah, e como levei anos para aprender aquilo!
Veio o decálogo, as pesquisas sócio-antropológicas, os complexos temáticos, os planejamentos: intuição, precisão, generalização, as atividades da vida cotidiana, os shows de talentos, as publicações do livro Alvorada para Todos, as revistas pedagógicas, dávamos palestras ... Como tudo isso faz parte de mim!
Nos anos oitenta, fiz Matemática na PUC. Em 2001, ingressei na ULBRA e já estava no 5º semestre de Letras, quando sofri um acidente horrível na Tabaí-Canoas. Não houve vítimas fatais, mas aquilo me fez desistir da faculdade. Ainda gosto de viajar de carro, mas estudar aqui ao lado da minha casa e na UFRGS é muuuuuuito melhor!
Bah! esqueci da ousadia, puts!
Tenho ousadia?
Quando leio o estímulo ao nosso trabalho, lembro de Freire e Ira Shor, escreveram Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Foi um dos livros que li à época das constituintes.
O texto ficou enorme, mas são décadas de história e ainda tenho muito a contar!

10 comentários:

biapedag.blogspot.com disse...

Ivana...grande é a tua hist´ria, tua missão, tua conviccção. Que bonito! Teu filho está certo: és uma guerreira.
E falando em mulheres corajosas e muito especiais, te recomendo o meu filme predileto, que estará passando em alguns canais da Net, a partir do dia 5: Clube da Felicidade e da Sorte
beijos
Bia

Luciene Sobotyk disse...

Oi Ivana,vi que você também perguntou para a Bea se podemos colcar fotos na página da escola.Deves ter lido minha pergunta.Não vi resposta alguma ainda,voc~E sabe me dizer se não há problemas com relação ás fotos?Abraços,Luciene

Luciene Sobotyk disse...

desculpe...fotos dos alunos.Tchau,Luciene

Chaine Mello disse...

Ousadia??? Esse é teu nome, Ivana!
Gostei de saber um pouco da tua vida. Temos amigas em comum, e algumas vezes que ouvi comentários a teu respeito sempre foram maravilhosos...Agora sei porque. Outra noite na aula, fiquei te olhando e apreciando tua beleza...É sério?! Não quero "puxar teu saco", nem tô te paquerenda...risos...Agora entendo de onde vem tua beleza...Vem da alma, da alma visionária, idelista...tudo de bom, minha linda! Força e Luz!

Luciene Sobotyk disse...

Oi Ivana!Lá na minha escola a vice-diretora levantou esta questão das autorizações,então optei por mostrar os ambientes da escola vazios.Espero ,mais adiante, poder mostrar os alunos em ação em um outro trabalho. Usei a lógica de que o trabalho tem o objetivo,de conhecer os espaços da escola e não os alunos( por enquanto).Vamos ver no que dá!Obrigada pelo retorno.Beijão,Luciene

Luciene Sobotyk disse...

Valeu,obrigada!Beijos,|Luciene

Cris Noschang disse...

Oi Ivana!
Linda e emocionante uma parte da tua história.
Poxa, legal mesmo! Fiquei encantada!
Que a minha estrada como professora (iniciada neste ano de 2006, novata) seja tão linda quanto a tua!
Abraços da Cris

Inês Cristina disse...

Ivana como sempre conseguiste passar claramente tua história. Parecia que estava vendo um filme. Continues tua caminhada mulher guerreira.E esta caminhada estaremos juntas até o fim. Beijos!

soniamara disse...

Olá Ivana,sou do pólo de Gravataí,fiquei fascinada com sua história de vida e luta por seus ideais.E só uma mensagem de Marcel Proust,pode completar o que aprendi lendo o teu blog.
"A verdadeira viagem do descobrimento não consiste em ver novas paisagens,mas em ter novos olhos."Abraços da colega Sônia Mara

Malucosta disse...

Ivana! Quando te conheci no pólo, vi que tu eras uma guerreira, o teu ser irradia toda esta garra e esta luta. Tenho orgulho de estar contigo nesta caminhada. Beijos.